Eu queria ter os cabelos da Rita Lee.
Há alguns anos, decidi ter os cabelos curtos e, às vezes, curtíssimos. Não só porque gosto. Mas, antes de mais nada, porque tenho preguiça.
Os fios dos meu cabelos são grossos e armados. Ficam entre o meio caminho do ondulado e do crespo. Me dá trabalho deixá-los, ao menos, interessantes. Como treinar diariamente e mantê-los limpos? Chato de verdade.
Meu pai era negro e bisneto de uma escrava. Nasceu no morro de São Carlos no Rio. Minha mãe era dominicana com ascendência espanhola e francesa. Meus meus cabelos estão dentro do esperado pela mistura.

Começo pela característica capilar, porque foram os cabelos lisos da Rita Lee que primeiro me chamaram a atenção. Era criança e, claro, sem maturidade para entender o que aquela cantora magra, fashion e com voz doce significaria para a música brasileira e para mim.
Com o passar dos anos, fui aprendendo como ela poderia colaborar com as minhas descobertas de juventude. Não só para o desenvolvimento do meu gosto musical. Mas, principalmente, para o lado garota/mulher.
Apesar da minha ignorância, eu conseguia absorver tudo o que fazia e dizia. Era simples e direta. Revolucionária sem ser chata. Bela sem ser afetada. Política sem ser panfletária. Força feminina sem igual.
Sua ação libertadora permitia que fizesse música e, ao mesmo tempo, enfrentasse a caretice e fosse mãe. E, ainda por cima, era capricorniana como eu. Cabra destemida rumo ao alto da montanha.
Cantei todas as suas músicas em casa e nas minhas aulas de canto. Participei de coreografias nas aulas de jazz com seus sucessos. Curti shows. Comprei os vinis depois os Cds. Louvei seus versos e sua garra de artista.
“ Sexo frágil não foge à luta. Mulher é bicho esquisito. Todo mês sangra. Por isso não provoque. É cor de rosa choque”.
Santa Rita Lee, um pacote completo. Obrigada.